sábado, 14 de janeiro de 2012

Revisão da Estrutura Curricular

No âmbito da proposta-base da Revisão da Estrutura Curricular apresentada pelo governo, há, de facto, alguns aspetos a considerar, tendo em conta a mudança necessária neste setor, não só “tendo em vista uma melhoria dos resultados escolares dos nossos alunos e uma gestão racional dos recursos”, mas também o objetivo de “melhorar significativamente o ensino das disciplinas fundamentais”.
Começaria por fixar as matrizes curriculares do 5º ao 9º ano de escolaridade no tempo máximo de 30 tempos (horas) letivos semanais, sendo que cada turma apenas teria aulas da parte da manhã ou da tarde. Esta situação permitiria aos alunos ter tempo disponível para estudar e facilitaria a organização do seu estudo e de outras ocupações, por parte dos próprios ou dos encarregados de educação. Desde já, poder-se-iam optar por soluções alternativas para o almoço e para o acompanhamento dos estudantes.
No turno contrário, seriam marcadas atividades facultativas para os alunos do 2º ciclo, nomeadamente o apoio ao estudo previsto na proposta do governo, bem como uma hora DT (direção de turma) e a disciplina de EMRC. Esta deixaria de estar inserida no currículo efetivo e o respetivo professor não estaria presente nas reuniões de conselho de turma, uma vez que, tal como atualmente, é opcional e não conta para efeitos de progressão / transição. A hora DT (direção de turma) proporcionaria aos alunos um tempo comum com o respetivo Diretor de Turma para tratar de assuntos da DT.
No 3º ciclo, partindo do mesmo limite de 30 horas letivas, no 7º ano, retiraria à proposta apresentada 1h a LE; no 8º ano, mantinha a proposta; e no 9º ano, aumentaria à proposta apresentada 1 h de LE. Acrescentaria uma área curricular não disciplinar no âmbito do desporto, com dois objetivos fundamentais: i) adquirir prazer e hábitos de prática desportiva; ii) sensibilizar para a importância do exercício físico no dia a dia do cidadão.
Para o efeito, colocaria obrigatoriamente, no turno contrário, 2 blocos para desporto, 1 para a prática de Educação Física e outro para a prática de uma modalidade desportiva ou de uma outra atividade lúdica, a escolher pelos alunos. Estas atividades, cujo professor estaria presente nas reuniões de conselho de turma e poderia ser DT, não contariam para a progressão / transição dos alunos, contudo seriam alvo de uma avaliação qualitativa no CT, tal como a hora de EMRC e a hora DT.
Quanto ao projecto de Apoio ao Estudo – complemento facultativo para os alunos – a aplicar no tempo superveniente dos professores, a ideia faz sentido, devendo ser implementados, para o efeito, blocos semanais, por ano de escolaridade, em par pedagógico de professores. Este tipo de apoio deverá incidir em exercícios práticos, com a aplicação de conteúdos, articulados com os respetivos professores da disciplina / turma(s), com base no diagnóstico.
Cada aluno poderia candidatar-se ao apoio ao estudo, podendo também o Conselho de Turma apresentar propostas e a cada grupo de alunos, no máximo de 15, seria atribuído um par pedagógico de professores para lhes prestar apoio, sendo criada uma bolsa de professores (3 pares pedagógicos para cada ano de escolaridade).
Relativamente ao ensino secundário, o funcionamento da EF seria idêntico ao agora proposto para o 3º ciclo, pelo que retirava a referida disciplina da matriz curricular e a sua avaliação não entrava na média dos alunos.
Outros contributos referentes a esta consulta pública poderão ser enviados, até dia 31 de janeiro, para revisao.estrutura.curricular@mec.gov.pt
José Nuno Torres Magalhães Vieira de Araújo, PQE

1 comentário:

Opinio firma disse...

A ideia de haver dois turnos, organizados como propões parece-me muito bem. No entanto, gostaria de compreender porque é que a lógica que usas na organização do 3º ciclo não se pode aplicar também no 2º, relativamente à Ed.Física?

Tenho pensado também como seria a melhor forma de organização curricular e mando-te algumas ideias que, embora possam parecer irrealistas acho que poderiam funcionar.

1. Podemos classificar as disciplinas em 3 tipos diferentes: aquelas cuja aprendizagem é cumulativa o que significa que se não se souber as bases não se avança (tipo línguas ou matemática), aquelas que são tipicamente vocacionais (as mais típicas são as artes e o desporto) e as restantes onde é possível aprender coisas de modo separado (a ignorância sobre o paleolítico não é totalmente inibidor de que se aprenda algo sobre a idade média, p.ex).
2. Porquê esta divisão? porque a maneira de organizar as turmas e o ensino deverá ser diferente.
Nas do primeiro tipo, tem de haver muitos mais níveis. Os alunos não devem reprovar mas passam mais rápido ou mais lentamente conforme forem progredindo. Se um aluno passa de ano chumbado a inglês porque não sabe nada, nunca aprenderá mais nada e o tempo que passar nas aulas será totalmente perdido. Não é por acaso que o instituto britânico tinha muitos níveis, um tipo entrava num nível de acordo com uma prova de acesso mas, depois, podia mudar de nível no Natal. Só assim é que eu vejo que seria útil fazer algo neste tipo de disciplina. E, no ensino obrigatório, eu não daria uma nota (sobretudo não diria que um aluno fez o 9º ano reprovado a inglês ou matemática, ou português). Em vez disso, diria que terminou o 9º ano com português de nível 5 ou nível 7 ou qualquer outra coisa e depois diria que para aceder a continuação de estudos teria, p.ex. de ter matemática de nível 9. Assim, não havia reprovações (que não adiantam nada) mas havia sim progressão até um certo nível.
3. As disciplinas vocacionais levavam a organizar os alunos de modo completamente diferente. Não era por idades era por capacidade. Não é assim nos clubes onde os miúdos fazem ginástica? E, depois, não obrigaria os alunos a fazer tudo. Podia haver um curriculo mínimo artístico ou de ginástica ou de música, mas depois deixaria que os alunos se dedicassem sobretudo àquilo de que gostam ou que fazem melhor. É assim que fazemos com os nossos filhos nas atividades em que os metemos fora da escola e era assim que a escola podia fazer. Até poderia usar os clubes e as academias para sub-contratar essas atividades. Aquilo que esteve previsto para a música ia absolutamente no sentido correto.
4. As outras disciplinas é que funcionariam como se faz hoje para tudo. Os alunos seriam divididos em turmas e iriam tendo história, ou geografia, serem expostos a ciências de vários tipos (biologia, física ou química) com a certeza de que nem todos os miúdos iriam aprender tudo (pergunte-se aos professores de letras o que é que eles ficaram a saber da física ou química que aprenderam no liceu e, vice-versa, para se perceber que não é essencial que toda a gente saiba de tudo -- a meu ver, essencial é que as pessoas sejam expostas a essas coisas, que saibam que elas existam e de que tratam, que apreendam o que é fundamental e que, depois, possam escolher). Definiria então um currículo mínimo e aí seria mais ou menos como é agora, com testes, notas e o que mais se costuma fazer, e deixaria mesmo que os miúdos mais interessados, motivados ou competitivos fizessem mais do que esse mínimo. Não era essencial que no fim chegassem todos a saber o mesmo.

Enfim, quando se "embala" a pensar destes assuntos nunca mais se para.
Depois falamos na escola.
Um abraço
Dídia